Com suas anquinhas em minhas mãos, pernas envolvendo minha cintura, olhei dentro dos olhos tão seus, loireza brilhando ao sol que me franzia a testa:
– Sabe o que eu sinto por você?
Olhou fundo, cara de pureza. Ficou em silêncio como se desnecessário fosse responder pergunta tão óbvia.
– Amor. – falou a boca sotaquenta.
– Não. – respondi séria, olhos de entrega.
– Amor. – duplicou ele, a resposta era clara.
– Não – neguei com verbo e com gesto.
– É amor. É brincadeira. – espremeu de leve os cantinhos dos olhos. – Fala, é amor.
Cedi:
– Imenso amor!
Abraçamo-nos.
Mastigava sem pressa bolo de chocolate melado. Sentado sobre os joelhos, garfinho na mão, batom de brigadeiro. Só nós dois na cozinha silenciosa.
– Sabe o que eu sinto por você? – insisti na brincadeira de horas atrás.
– Hum… – pensou com olhos fechados e boca cheia.
Esperei.
– Não é amor, né?
Ergui as sobrancelhas, expectante. Como dizer que não? Lembrou sozinho:
– Repleto amor!
Sorri inteira. “Repleto amor” servia.
Que coisa mais linda e gostosa de sentir. Beijos!